Sucessões. Sucessões por recorrência. Sucessões monótonas. Sucessões minoradas, majoradas e limitadas. O limite de sucessões (início)
Material de estudo:
Definição: Designa-se por sucessão qualquer função de domínio \(\mathbb{N}\).
Considere-se então uma sucessão \(u:\mathbb{N}\rightarrow \mathbb{R}\). Em vez de usarmos a notação habitual para o valor de uma função em \(n\), \(u(n)\), usamos o símbolo \(u_n\). Para cada natural \(n\), o valor \(u_n\) designa-se por termo de ordem \(n\) da sucessão. Por conveniência adoptamos uma certa imprecisão de linguagem ao referirmo-nos à sucessão \(u\) (uma função) como o seu termo geral \(u_n\) (números). Assim, por exemplo, dizemos "a sucessão \(u_n=1+3n\)" ou "a sucessão \(v_n=n^3\)".
O conjunto dos termos da sucessão \(u\) é então o conjunto de números reais: \[\{u_n: n\in\mathbb{N}\}\]
Importa não confundir uma sucessão com o conjunto dos seus termos: quando nos referimos a um conjunto não estamos a impôr nenhuma ordem aos seus elementos (por exemplo,\(\{1,2\}=\{2,1\}\)). No entanto, os termos de uma sucessão estão ordenados de acordo com \(n\): \[u_1,\;u_2,\;u_3,\;u_4,\;u_5,\;\dots\] Aliás, o conjunto dos termos da sucessão pode ser finito, como acontece com uma sucessão constante, cujo conjunto de termos é singular.
Exemplos:Nos exemplos anteriores cada sucessão foi dada pela expressão geral dos seus termos. Outra forma de dar uma sucessão é por recorrência. Neste caso, dá-se o primeiro termo (termo de ordem \(n=1\)), e explicita-se como, sabendo \(u_n\) se pode obter \(u_{n+1}.\)
Exemplos(Este resultado é um pouco mais difícil de provar por indução que os anteriores. Aceite o desafio e faça-o!)
Notem que, apesar dos exemplos anteriores, na maior parte dos casos não é possível determinar o termo geral de uma sucessão quando esta é dada por recorrência. Introduzimos dois tipos de classificação de sucessões:
Definição: Diz-se que uma sucessão \(u_n\) éEstritamente crescente ou estritamente decrescente, se as desigualdades forem estritas (isto é, \(\gt\) ou \(\lt\)) .
- crescente, se \(u_{n+1}\geqslant u_n,\) para qualquer \(n\in\mathbb{N}\),
- decrescente, se \(u_{n+1}\leqslant u_n,\) para qualquer \(n\in\mathbb{N}\),
Em qualquer dos casos anteriores, \(u_n\) diz-se monótona.
Definição: Diz-se que uma sucessão \(u_n\) éUma sucessão simultaneamente minorada e majorada diz-se que é limitada.
- majorada, se o conjunto dos termos de \(u_n\) é majorado, ou seja, existe \(M\in\mathbb{R}\) tal que, \[\forall_{n\in\mathbb{N}},\; u_n\leqslant M\]
- minorada, se o conjunto dos termos de \(u_n\) é minorado, ou seja, existe \(m\in\mathbb{R}\) tal que, \[\forall_{n\in\mathbb{N}},\; u_n\geqslant m\]
Se o conjunto dos termos de uma sucessão \(u_n\) tiver supremo, designamo-lo por \(\sup u_n\). Analogamente para o ínfimo, máximo e mínimo, respectivamente, \(\inf u_n\), \(\max u_n\), \(\min u_n\). Constatamos então que, se \(u_n\) é crescente, então \(\inf u_n=\min u_n=u_1\) e, se \(u_n\) é decrescente, então \(\sup u_n=\max u_n=u_1.\)
ExemplosConsideremos, por exemplo, a sucessão \(u_n=\frac{1}{n}\). Temos a noção intuitiva de que, á medida que \(n\) "cresce indefinidamente", e escrevemos \(n\to\infty\), os termos \(\frac{1}{1},\frac{1}{2},\frac{1}{3},\frac{1}{4},\frac{1}{5},\dots\) "tornam-se arbitrariamente próximos" de \(0\), e escrevemos \(u_n\to 0.\) Em muitas situações não é assim tão fácil usarmos essa ideia intuitiva para estudarmos o limite de uma sucessão. É o que acontece, por exemplo, com o estudo de várias sucessões definidas por recorrência tais como \[u_n=\begin{cases}u=1,& \\u_{n+1}=\frac{u_n}{2}+\frac{1}{u_n} &\end{cases}\] Esta é um das razões pela qual temos que ter uma definição precisa de limite a partir da qual podemos extrair propriedades e técnicas úteis em situações concretas.
Lembremo-nos, em primeiro lugar, que a distância de \(x\) a um ponto \(a\) é dada por \(|x-a|\). Então, dizer que "\(x\to a\)" é o mesmo que dizer que \(|x-a|\to 0\). Agora, precisamos de formalizar esta última noção de "aproximação de zero." Para isso, tomemos novamente o exemplo \(u_n=\frac{1}{n}\). Tomemos um positivo qualquer \(\varepsilon\). Todos os termos \(\frac{1}{n}\) para "\(n\) suficientemente grande" estão a uma distância de \(a\) inferior a \(\varepsilon\).
É a ideia expressa na última frase que vamos formular matematicamente dizendo que \(u_n\to a\), e dizemos \(u_n\) converge para \(a\), se a distância \(|x-a|\) puder ser feita tão pequena quanto se queira (\(\lt \varepsilon\) para \(\varepsilon\) positivo "tão pequeno quanto se queira"), para isso, bastando escolher \(n\) suficientemente grande:
Definição: Diz-se que uma sucessão \(u_n\) converge para \(a\) (\(u_n\to a\)) se, dado um \(\varepsilon\gt 0\) arbitrário, existe \(p\in\mathbb{N}\) tal que \[n\gt p\; \Rightarrow\; |u_n-a|\lt \varepsilon.\] Se houver \(a\) nestas condições, diz-se que a sucessão \(u_n\) é convergente. O real \(a\) designa-se por limite da sucessão \(u_n\). Se não houver \(a\) nestas condições, a sucessão \(u_n\) diz-se divergente.Usando símbolos de quantificação, podemos escrever esta definição de forma mais condensada: \(u_n\to a\) sse \[\forall_{\varepsilon>0}\,\exists_{p}\quad n\gt p\;\Rightarrow\; |u_n-a|\lt \varepsilon.\]
Como é natural, quanto mais próximo exigirmos que \(u_n\) esteja de \(a\) (ou seja, quanto menor for \(\varepsilon\)), maiores ordens \(n\) teremos que considerar. Ou seja, \(p\) dependerá de \(\varepsilon\), em geral aumentando quando se diminui \(\varepsilon\).
Ilustremos então a definição acima com um exemplo:
Exemplos