___ Métodos Iterativos ____
para Sistemas Não Lineares



Método do Ponto Fixo em Rn

Consideremos, por exemplo, um sistema da forma:

x1 - x2 sin ( x1 ) = 0
x1 - x2 + cos ( x1 x2 ) = 0
que se pode escrever na forma mais geral: F ( x ) = 0 com F : Rn ---> Rn .
Neste exemplo, temos:
F1(x1, x2) = x1 - x2 sin ( x1 )
F2(x1, x2) = x1 - x2 + cos ( x1 x2 )

De forma análoga ao caso unidimensional, podemos pensar num Método do ponto fixo para Rn, começando por estabelecer a equivalência:

F ( x ) = 0 <==> x = G ( x )

No nosso exemplo, poderiamos escrever:

x1 = x2 sin ( x1 ) = G1( x1, x2 )
x2 = x1 + cos ( x1 x2 )= G2( x1, x2 )

A partir deste momento temos definida uma função iteradora G e obtemos um método do ponto fixo :

Iterada inicial: x(0)
Iterar x(n+1) = G ( x(n))
semelhante ao caso unidimensional.
Para estabelecermos as condições de convergência vamos, de novo, definir a contractividade, agora em Rn.

Definição:
Seja G : D C Rn ---> Rn.
Se ||G(x) - G(y) || < L || x - y || para quaisquer x, y em D e para um certo L < 1,
então diz-se que G é contractiva em D relativamente à norma ||.|| .


Teorema: ( do Ponto Fixo em Rn )
Seja D um conjunto fechado e G : D C Rn ---> Rn,
tal que

(i) G(D) C D ,
(ii) G é contractiva em D,
então existe um e um só ponto fixo z em D, e o método do ponto fixo converge para z, se o vector inicial x(0) pertencer a D.

demonstração :

  • Vamos só ver o caso em que D é limitado, por simplicidade (a demonstração geral é semelhante - ver folhas).

  • É claro que se x(0) pertencer a D, atendendo à hipótese (i) e como x(n+1) = G( x (n)), teremos todos os elementos da sucessão, x(n), em D.
  • Isto é importante para aplicarmos a contractividade, e assim mostrarmos que x(n) é uma sucessão de Cauchy:

    ||x(n+m) - x(n) || = ||G ( x(n+m-1)) - G ( x(n-1)) || < L ||x(n+m-1) - x(n-1) || < ... < Ln ||x(m) - x(0) || ---> 0

    quando m, n tendem para infinito, já que L < 1, e porque ||x(m) - x(0) || é limitado, já que os termos da sucessão estão em D, que assumimos ser limitado.
    Concluimos assim que é uma sucessão de Cauchy num conjunto fechado, logo o limite z pertence a D.

  • É fácil ver que z é o ponto fixo, porque :
    ||x(n+1) - G( z ) || = ||G(x(n)) - G( z ) || < L ||x(n) - z || ----> 0 ou seja, como x(n) converge para o limite z isto implica que x(n) converge também para G( z ). Logo z = G ( z ) .

  • A unicidade do ponto fixo surge por absurdo, já que se existissem dois pontos fixos distintos z, w em D, então:
    ||z - w || = ||G(z) - G( w ) || < L ||z - w ||

    ora se eles são distintos podemos dividir por ||z - w || e obtemos L > 1 , o que contradiz a hipótese de contractividade!


    Corolário:
    Da demonstração anterior podemos deduzir as seguintes majorações para os erros:

    || e(n+1) || < L || e(n) ||
    || e(n) || < Ln || e(0) ||
    || e(n+1) || < Ln / ( 1 - L ) || x(1) - x(0) ||


    Observação:
    O caso dos métodos iterativos para sistemas lineares, que vimos, podem ser englobados neste contexto considerando

    x = G (x) = M-1b - M-1N x

    Para exigir que G seja contractiva, como
    || G ( x ) - G ( y )|| = || M-1b + C x - (M-1b + C y)|| =
    = || C ( x - y ) || < ||C|| || x - y ||
    basta que ||C|| < 1, condição que já tinhamos obtido.
    Finalmente, notamos que, como Rn é fechado, podemos aplicar o teorema do ponto fixo para um qualquer x(0) em Rn.


    Para verificarmos que uma função é contractiva, não é necessário usar sempre a definição. Tal como no caso unidimensional, em que utilizamos a derivada, podemos aqui estabelecer uma condição suficiente, mais simples, que envolve agora a noção de matriz Jacobiana :



    Teorema:
    Seja D um conjunto fechado e convexo em Rn, e seja G uma função C1(D).
    Se

    então a função G é contractiva em D, para a norma do máximo.


    Observação:
    A determinação dos domínios de convergência, para uma certa função iteradora, constitui ainda hoje um problema em aberto, devido à complexidade inerente.
    Para termos uma ideia dessa complexidade, basta pensar numa função iteradora G extremamente simples:

    G1(x,y) = x2 - y2+c1
    G2(x,y) = 2 x y + c2

    que corresponde a iterar, nos complexos, zn+1 = zn2 + c .
    Se considerarmos, por exemplo, c = 0.3 - 0.4 i, o domínio de iteradas inicias z0, para as quais a sucessão (zn) é limitada define um conjunto fractal (chamado conjunto de Julia)...


    Método de Newton Generalizado

    De forma análoga ao que fizemos no caso unidimensional, podemos deduzir aqui um método, inspirado no método de Newton, cuja ordem de convergência é usualmente quadrática.

    Pretende-se resolver F ( x ) = 0 e reparamos que se pode estabelecer, numa vizinhança da solução, a equivalência

    F ( x ) = 0 <==> x = x - JF-1( x ) F ( x )
    bastando para isso que a função vectorial F seja de classe C1 e que det [JF( x )] =/= 0, nessa vizinhança.

    Podemos assim definir uma função iteradora G( x ) = x - JF-1( x ) F ( x ) a que aplicamos o método do ponto fixo.
    Se quisermos verificar que o método converge, podemos usar o teorema do ponto fixo aplicado à função G, já que no caso vectorial não há critérios simplificados para o método de Newton, como estabelecemos para uma dimensão!

  • Para evitar o cálculo "pesado" da inversa da matriz jacobiana, podemos fazer uma pequena alteração no método, de forma a substituirmos o cálculo da inversa pela resolução de um sistema.
    O método de Newton generalizado fica então :

    Iterada inicial: x(0)
    Determinar d, resolvendo o sistema linear

    JF(x(k)) d = - F ( x(k))

    x(k+1) = x(k) + d

    Como dissemos, a convergência deste método, a existir, é (normalmente) quadrática, tendo-se:

    || z - x(k+1) || < K || z - x(k) ||2